Por Luciana Genro
Nos últimos dias alguns dos principais representantes da burguesia vieram à público declarar-se contra o impeachment de Dilma, confirmando o que eu e outros dirigentes do PSOL temos afirmado. No último domingo, foi a vez do banqueiro Roberto Setúbal, presidente do Itaú Unibanco, dizer que “não há motivos para tirar Dilma do cargo”. Não é de causar surpresa, visto que os bancos, apesar da crise, têm aumentado seus lucros e, como sempre, ficado de fora de qualquer medida de ajuste. A burguesia está bem servida e quer que o governo leve adiante o ajuste nas costas do povo.
Diante da insistência dos governistas em tentar atrair o PSOL para uma frente contra um suposto golpe, temos afirmado que o único caminho para conter o crescimento da direita e do PSDB é construindo um terceiro campo, nas lutas por emprego, salário, moradia e contra o ajuste de Dilma e Levy, apoiado pelo PSDB. Neste processo é preciso, também, apontar uma saída política para a crise. Acredito que é preciso lutar pela convocação de uma Assembleia Constituinte que seja capaz de refundar as instituições da República e aproximá-las dos anseios populares.
As instituições não representam os interesses da maioria do povo. Existem para manter e reproduzir privilégios e concentrar muito poder nas mãos de um punhado de pessoas e grupos políticos. Somente com a ampla participação popular na política será possível tornar as instituições da República mais permeáveis às necessidades reais da população.
A Assembleia Constituinte que defendemos não poderia ser eleita com base no atual sistema político-eleitoral do país. Esse sistema privilegia as candidaturas com vultuosas doações das grandes empresas, dos bancos e das empreiteiras e acaba elegendo, na grande maioria, políticos que representam esses setores – e não a maioria da população.
Defendo a necessidade de uma Assembleia Constituinte eleita sob novas bases, que permitam a candidatura de pessoas sem partido político, que distribua de forma mais democrática o tempo de televisão e que proíba a doação de empresas aos candidatos e partidos. Neste cenário teríamos uma oportunidade para quebrar a casta que domina a política e possibilitar ao povo que tome em suas mãos os destinos da nação.